Aventuras Venturosas de um Vestibulando Vagabundo (Parte 2)
- 6 de janeiro de 2007
Fomos para Porto Alegre um dia antes da primeira prova, pois nosso cursinho, o Mauá, nos ofereceu (por módicos 10 reais o ingresso) a oportunidade de fazermos uma revisão pré-prova, antes de todas as provas. E como o pré-prova de português e redação seria às 9:30 da manhã, era bom que saíssemos cedo de casa. No carro, veio comigo outro guerreiro do vestibular, Tio Mauri, que trazia na mochila seus 5 livros do cursinho, uns dois ou três cadernos, quatro kg de comida e provavelmente aquele pneu velho que ele catou em Mostardas (melhor não contar essa história).
Fato curioso da viagem: vimos um fusca roxo berrante. Ainda compro um desses.
Já na Capital, fomos direto para a sede do Mauá para assistirmos ao nosso pré-prova. Não há muito o que comentar, exceto que o professor de português jurou que mudaria de nome caso não caísse acentuação na prova do dia seguinte e que descobrimos um novo apelido do professor de química (EMOssexual). Depois da aulinha, almoço. Eu e uns amigos (Babi, Nessa, Morgana, Tio Mauri e Roger) ficamos na entrada do cursinho olhando um para a cara do outro tentando decidir o que fazer. Numa crise coletiva de burrice, pegamos um táxi para irmos até o Colégio Rosário, que ficava à, no máximo, 500 metros de distância, o que me permite calcular que o preço da bandeirada do taxi aumenta 1 pila a cada 100 metros. Mas tudo bem. De lá, foi cada um pro seu canto. Eu fui pra casa da minha tia. Depois de uma bela refeição, uma bela sesta. E depois de uma bela sesta, uma violenta preguiça, preguiça esta que só me permitiu sair da cama às cinco da tarde, para ver o ponto onde eu pegaria meu ônibus, que diligentemente me levaria até o local de prova para o curso de Psicologia. Pegar o ônibus foi tão fácil, e andar nele também. Fiquei imaginando que todos os dias seriam assim tão fáceis. Quem diria que no dia seguinte minhas ilusões a respeito da qualidade do serviço de locomoção púbica, digo, pública de Porto Alegre seriam destruídas.
Depois deste passeio, outro: fui chamado pela mesma turma que me acompanhou no cursinho para ir até a rodoviária comprarmos nossas passagens. E agora, temos um capítulo crucial em nossa história, o que me obriga a contá-lo com o maior número de detalhes possível. Aqui vai nosso diálogo (hexálogo, já que estavamos em 6) com a mulher do guichê:
-Oi, moça, 5 passagens pra Caxias do Sul, pra quarta-feira às oito horas da noite.
-25 reais cada.
-Tem troco pra 50?
Mais pra frente vocês vão entender a moral deste diálogo besta ter sido escrito aqui.
Compradas as passagens, metemo-nas nos bolsos, caímos na gandaia e fomos caminhar pelo centro da cidade. Lugarzinho interessante: velho, fedido e apertado. Ainda assim, encantador. Caminhamos até chegarmos (novamente) ao Colégio Rosário. Não resistimos à tentação e resolvemos comer um cachorro-quente por lá mesmo. Mas não era qualquer cachorro-quente, era O Cachorro-quente do Rosário, o mais famoso da cidade (nem por isso mais caro). A fama é merecida, pois eu nunca pensei que colocar azeite de oliva por cima do queijo ralado pudesse dar um gostinho tão bom. Mas o dono da banquinha pensou. Ele merecia um Nobel.
Como a vadiagem não tinha mais fim, resolvemos ir no Zaffari para comprar umas porcarias pra comer, já que o que Tio Mauri tinha na mochila não iria ser o suficiente para os quatro dias. Eis que então recebo um amável telefonema de meu pai, me passando um belo sermão de como eu tinha deixado de comparecer ao jantar que minha tia tinha cozinhado especialmente para mim. Após este leve esporro, fiquei um pouco abatido, sem vontade de cantar uma bela canção. Mas deixei de frescura quando começamos a discutir com duas outras vestibulandas qual seria a melhor porcaria para comer durante a prova. Ninguém conseguiu pensar em nada melhor que puxar uma cuia de chimarrão e uma barra de rapadura gigante no meio da prova, talvez com a exceção do Cheetos bola (sabor queijo, aroma chulé).
Olho no relógio: são oito e dez da noite. Naquela mesma chamada-esporro, havia combinado com meu pai de voltar para casa às 20:30. Pensei comigo mesmo que chegaria na parada de ônibus às 20:20 e chegaria em casa na hora. Me despedi de todos e desembestei correndo pelo centro de Porto Alegre, na certeza de que acharia logo de cara o caminho. Mas algo de estranho estava acontecendo, pois não me lembrava de ter passado por nenhuma daquelas ruas. Vi que a coisa estava feia quando percebi que estava na frente da Escola de Engenharia da UFRGS, e não na parada de ônibus. Fiquei pensando "Quem é que colocou estes prédios aqui?!" enquanto eu andava agora na frente da Faculdade de Medicina. Estava perdido (vocês notarão que esta oração será uma constante nos próximos 4 posts). Em todo caso, consegui descobrir qual era o caminho certo, e peguei meu ônibus às 20:40. No outro dia, faria a primeira prova. A batalha já havia começado. Pensei em fazer como os membros da antiga seita dos Assassinos, que após começarem uma guerra fumavam haxixe e ficavam acordados até o final. Como eu não tinha haxixe, a única opção de alucinógeno era benflogin, mas eu não estava disposto a caminhar até uma farmácia pra comprar um remédio para dor de garganta que dizem ser chapante.
Decidi dormir mesmo.