Aloprando em Curitiba (Parte 5)
Dia III: Saindo do Armário
Parte II - Início da Tarde
... E os chicletes não adiantaram pra muita coisa, pois fiquei arrotando alho por mais um bom tempo (que finésse esse começo de post!). Mas almoçado eu já tinha. Precisava me concentar em outra necessidade básica: minha higiene. Para variar, esqueci o xampu e o condicionador no alojamento. Não iria comprar merda nenhuma, então peguei emprestado. Precisava de uma sacola plástica para colocar minha toalha molhada depois do banho, afinal de contas ela iria ficar na mochila de outra pessoa por pelo menos 4 horas, e a não ser que eu quisesse ser ingrato e criar uma colônia de fungos nas coisas do Daniel, um certo isolamento material era necessário.
Passei no mercado, procurando alguma coisa para comprar e ganhar uma sacola plástica de presente. Achei numa geladeira mais para o fundo do estabelecimento um estoque de latinhas de Lipton Ice Tea, e geladas! Mataria dois coelhos com uma caixa d'agua só (até por que a do alojamento ainda deveria estar pela metade), e consegueria uma sacola e um chá gelado depois do almoço. Cheguei no caixa, paguei e fiquei esperando pela sacola. Fiquei olhando para a cara da caixa, e quando eu percebi que a sacolinha não iria criar-se espontaneamente no ar, pedi por uma. Meus problemas estavam resolvidos, pelo menos por enquanto.
Hora do banho! O chuveiro do Cecília era infinitamente mais asseado do que o do Aljazera. Dava até pra sair limpo de lá! Como é de praxe neste tipo de evento, havia 2 chuveiros no banheiro, mas só um esquentava a água. E como quase todo mundo quer banhinho quente, tinha fila para este chuveiro. O Santiago, o paulistano mais paulistano de toda a São Paulo, já disse que ele era o primeiro da fila para o banho quente. Usando a lógica, resolvi tomar banho frio mesmo, pois era muito difícil que alguém mais estivesse disposto a fazer isso, além de ser mais rápido (por motivos óbvios).
Enfim, a higiene se fazia presente em minha vida, e poderia finalmente mexer no meu cabelo sem ficar com a mão engordurada. Poderia então cumprir minha missão. "Missão?!?! Que porra que ele tá falando?" vocês devem estar se perguntando. Sim, tinha me oferecido como voluntário para participar do GDV mais casca-grossa de todos: o de estatuto do Conep (Coordenação Nacional dos Estudantes de Psicologia). Em condições naturais de pressão, temperatura e retardo mental, eu nunca participaria de uma coisa dessas. Aliás, quando vi o GDV de estatuto na programação a primeira coisa que pensei "nesse daí, nem a pau, Juvenal". Mas é, eu fui. E como voluntário. Tive bons motivos para isso, contudo. Rolavam boatos que havia aparecido uma proposta completamente nova de estatuto, que mudaria tudo. Geralmente, quando uma coisa assim aparece, é algum partido ou movimento político, geralmente de extrema esquerda, tentando fazer com que um movimento estudantil trabalhe para sua causa. O P-Sol, o PSTU, o PCO e a Conlute (Coordenação Nacional da Luta Estudantil) já fizeram dessas, como propor que a Conep se declaresse contra a guerra no Iraque porque, claro, se o Bush soubesse que os estudantes de Psicologia brasileiros são contra a guerra no Iraque ele iria se sentir tão culpado que ele iria tirar todas os seus soldados de lá imediatamente.
Mas, se a proposta era completamente nova, com certeza não seria tão simples (e estúpida) como o exemplo citado. Seria necessário um guardião implacável, aguerrido, corajoso para impedir que tal infâmia se abatesse sobre o estatuto. Mas quem seria este bravo? Um gaúcho, centauro dos pampas, claro! E quem melhor do que eu, Andarilho, calouro, perdido como peido em bombacha, para desempenhar tão importante missão?
Continua...