Aventuras Venturosas de um Vestibulando Vagabundo (Parte 4)
- 8 de janeiro de 2007
Segundo dia de prova. Minha cama estava agradavelmente quente e confortável, o que me impediu de sair dela e fazer a prova, fazendo-me perder todo o vestibular.
Tá, isso é mentira, mas confesso que realmente pensei em ficar em casa dormindo. O que me levou a tirar minha bunda do colchão foi o pensamento que, se eu não passasse esse ano, eu teria que repetir a dose de vestibular em 2008. Nada agradável.
Tinha decidido pegar um táxi hoje, e ver se valia a pena gastar mais para não levar roçadas (calma, a viadagem ficou no post anterior), o que me daria muito mais tempo para gastar fazendo coisas que antes eu faria correndo, como tomar café, por exemplo!
O dia 8 de janeiro foi muito mais bonito que o dia 7, só pelo simples fato de não ter que esperar um ônibus lotado, mas apenas escolher um táxi, acomodar-se no banco da frente e dizer “Pro colégio Nossa Senhora da Glória!” Valeu a pena gastar 4 vezes o preço da passagem na corrida só por isso.
Por um erro de cálculo, cheguei muito cedo no local de prova. Ao contrário do que muitos poderiam pensar isto não é uma coisa boa, afinal, eu teria que ser muito mais criativo e paciente para descobrir novas formas de enrolar antes de abrirem os portões. Comecei a jogar pinball no celular, mas a brincadeira perdeu a graça depois da quinta vez que quebrei um recorde.
Enquanto isso, outro oportunista resolveu vender água mineral na frente da escola, mas do lado de fora. Isso garantia uma vantagem estratégica, já que, para comprar dele, não era necessário esperar abrirem os portões. A propósito, esse vendedor também não tirava os rótulos das garrafas. Aposto que muito preguiçoso pagaria 50 centavos a mais por este serviço.
Como no dia anterior, abriram os portões às 8 horas, e foi o estouro da boiada para dentro do prédio. Engraçado como as pessoas pensam que, se chegarem antes que todos os outros na sala de prova eles farão uma prova melhor. Eu tenho um pensamento ligeiramente diferente: eu farei uma prova melhor se antes de começar eu fizer todas as minhas necessidades fisiológicas. E foi para este fim que utilizei a meia hora entre a entrada e o começo do exame do dia. Gostaria de fazer uma pequena observação sobre como os banheiros masculinos em colégios dirigidos por freiras são marginalizados e escondidos, forçando os homens que desejam utilizar o toalete deslocarem-se pelo menos 50 metros a mais que as mulheres. CADÊ A IGUALDADE DE SEXOS AQUI?!?! Não vem ao caso de qualquer maneira.
Depois de meia hora enchendo murcilha nos corredores, decidi que seria melhor apresentar-me na minha sala. Muitos dos vestibulandos que faltaram no dia 7 apareceram hoje, talvez na esperança de conseguirem uma vaga por sorteio. HA! A gótica hoje usava uma blusinha vermelha, com a mesma saia do outro dia. Será que o cinto que ela usa foi costurado diretamente em sua cintura, impedindo que ela troque de saia? Ou ela nasceu usando aquela saia preta? E, aliás, o que uma gótica quer na Psicologia? Mais a frente, um indivíduo usando uma camisa branca completamente desabotoada por cima de uma camiseta física, com cabelos lambidos para trás, tomava Red Bull enquanto passava o cha-la-lá em uma coleguinha. Sim, estamos falando do Amante Latino®, primeiro, único e insubstituível. Só esperava que todo o gel que ele passou nos cabelos não tenha atrapalhado seu desempenho intelectual (que mentira, claro que eu esperava isso!).
Hora da prova. Nunca vi uma prova de geografia tão complicada. Alguém sabe onde fica Frederico Westphalen? Qual é a atividade econômica local, além da boa e velha fofoca entre vizinhos? Será que a prefeitura ganhou um cachê por aparecer na prova da UFRGS ou teve que liberar um jabá na mão da COPERSE para ser citada? Química costumava ser mais divertida no tempo de escola, quando tudo o que tínhamos que fazer era tocar fogo em algumas porcarias e proteger os olhos por causa da explosão. Bem que essa prova poderia ter sido igual. Com a Biologia, a coisa foi mais tranqüila. Nem parecia que no começo do ano eu só sabia que aves têm penas!
Como podem imaginar, demorei bastante antes de terminar todas as questões e sair para o almoço. Voltei para casa de lotação mais uma vez. Como ele sempre me deixava a alguns quarteirões de distância de casa, eu precisava caminhar e dobrar uma esquina. Adivinhem como me perdi hoje? Esqueci onde era essa esquina. Só me dei conta que tinha deixado algo para trás quando passei na frente de uma escola infantil com os 7 anões na frente. Pensei em fazer alguma coisa com aquelas estátuas bestas, como, por exemplo, coloca-las no meio da rua com uma placa escrita “Sexo oral por um prato de comida”. Seria realmente divertido, e provavelmente alguém já teria feito isso antes de mim, se não fosse a cerca elétrica que protegia os nossos amiguinhos anões de jardim. Voltar para casa e almoçar era o melhor que podia fazer.
Às 3 da tarde, como sempre, teríamos a aula pré-prova, mas hoje seria um pouco diferente dos outros dias, pois meu transporte dependia exclusivamente de mim. Contrariando o que aprendi sobre os meios de transporte coletivo porto-alegrenses, decidi pegar um ônibus. Levei meia hora só para descobrir o ponto correto, e só decidi pegar um táxi quando meu atraso já era certo. ME ABANE TERESINHA!
Depois do pré-prova, o momento que eu mais ansiava: jogar sinuca. O Róger, que tem a incrível habilidade de descobrir todos os barecos e buracos com mesa de sinuca num raio de um quilômetro quadrado, nos apresentou ao Porto 10, lugarzinho show de bola com mesas muito boas (dava até pra jogar nelas!). Hoje foi meu dia de brilhar. Se tivesse ido tão bem na prova quanto eu fui na jogatina do dia, eu teria gabaritado biologia e química (geografia eu ainda teria errado aquela de Frederico Westphalen).
Como o pessoal ainda tinha fôlego de sobra depois de beber cerveja e sinuquear, fomos a pé, desde o bairro Floresta até o Parque da Redenção, algo em torno de 6 ou 7 quilômetros de distância. Uma verdadeira mixaria. No caminho, passamos pela Faculdade de Medicina e pela Escola de Engenharia mais uma vez. É um prazer incrível passar por um lugar e poder dizer “Puta merda, eu já me perdi aqui!” Coisas que só o vestibular faz por você...
Mas eu não tinha muito tempo a perder pois, para variar, precisava voltar para casa antes que o expediente dos trombadinhas e tarados começasse (8 horas) para jantar, e depois do jantar, me apavorar com a prova do dia seguinte: Física e Matemática.
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