terça-feira, 24 de julho de 2007

Aloprando em Curitiba (Parte 2)

Dia I: A Viagem (de ônibus) de Ida

ENEP: Encontro Nacional dos Estudantes de Psicologia. Muito ouvi os bisavóteranos (veteranos dos veteranos dos nossos veteranos) falarem desse encontro. Tanto ouvi que decidi ir também.

O encontro originalmente duraria 7 dias, comeriamos no RU e ficariamos alojados em salas da Universidade Federal do Paraná, a UFPR, universidade que não tem uma pronúncia tão divertida quanto o URGS da UFRGS , mas é bem bacana também. Eu disse que "originalmente" seriam 7 dias, certo? Pois bem, não foi sem motivo, pois por causa da greve dos funcionários da universidade e pela falta de planejamento dos psicos da UFPR (que apoiam a greve), perdemos o rango e teríamos que ficar alojados em algum outro lugar em Curitiba. Para coroar tudo isso, o encontro acabou encurtando para 5 dias. Apesar dos pesares, ninguém desistiu por causa disso (já por outros motivos... bem, não vale a pena comentar).

O credenciamento no evento seria terça-feira de manhã, e como a viagem até lá dura mais ou menos 12 horas, sairíamos de Porto Alegre, da frente do nosso amado Instituto de Psicologia, na segunda-feira de noite, para chegar lá pelas 8 da manhã. No nosso ônibus, além do pessoal da UFRGS, iriam 3 pessoas da PUCRS, 2 da Unisinos e uma guerreira da Universidade de Passo Fundo (UPF).

Viagem de ônibus de ida é sempre uma farra. Ninguém dorme: todo mundo fica cantando, gritando ou falando merda quase que o tempo inteiro. Sem falar que compraram 3 garrafões de vinho para a ida. Não preciso dizer que os buracos da estrada e o porre da gurizada contribuíram para que as poltronas fossem tingidas de roxo. Fiquei bastante tempo conversando também, mas como ninguém é de ferro, dormi também. Incrível como ouvir música, qualquer uma, qualquer tipo, tem um efeito sonífero nessas horas. Eu não queria dormir, mas acabava de qualquer jeito, só para acordar meia hora mais tarde e ver que já tinham se passado 20 faixas. O único acontecimento digno de nota, além do fato que eu não me manchei de vinho barato (lembrem-se crianças, quanto mais vagabundo o vinho mais fodida é a mancha na camisa do bebum), foi nossa parada para lanchar em Torres. O paradouro estava cheio de uruguaios, e era um espetáculo interessante ver meu colega Gabriel xingando o futebol deles em um portunhol pra lá de gaiato.

Chegamos um pouco antes do que o previsto em Curitiba, e descobrimos onde os eventos ocorreriam. Era num colégio municipal na periferia da cidade, o Cecília Meirelles. Entrei na fila (por que não podia faltar uma fila num evento desses) e fiquei conversando com uma guria da Universidade Federal de Goiás, que não vi mais depois disso. No cadastro, colocaram uma pulseirinha amarela no meu pulso, para identificação e permitir que eu entrasse nos alojamentos e festas sem muitas complicações. Estava escrito na pulseirinha o de praxe "ENEP Curitiba PR". OK, normal. O que me preocupou foi que vinha escrito depois "grita LUXO!!!". A primeira coisa que pensei foi "Isso deve ser o que a gente deve gritar quando ver nosso alojamento". Dito e feito. Ficamos no colégio Algacyr Maeder, o mais ginete de todos. Tão ginete que ficou conhecido com "Aljazira" (eu sei, a Al Jazeera é a TV, e a Al Quaeda é a rede terrorista, mas para fins humorísticos dá tudo na mesma). Lá, quem mandou foi Murphy e sua lei, pois tudo que poderia ter dado errado deu errado, e da pior forma possível.

A primeira coisa que deu errado foi a comida. A organização do evento tinha feito uma parceria com um restaurante que mandaria quentinhas para a sede dos eventos, e para que pudessemos nos deliciar com suas iguarias, tinhamos que comprar tickets de café da manhã, almoço e janta. Tudo à preço de custo. Como nos falaram que não havia nenhum restaurante, bar, bodega ou buraco pra gente comer torrada (misto quente, perdão), nos obrigamos a comprar os tais tickets, para quarta, sexta e sábado (um churrascão tinha sido programado para quinta-feira). Lograr o pessoal da organização era uma barbada. Aliás, não era necessário nem se esforçar, por que todo mundo da excursão de Porto Alegre que comprou os benditos tickets ganhou vááários a mais. Devolvemos o que não pagamos, claro, mas já ali dava pra prever que a coisa não daria certo.


Fomos para o alojamento. Pegamos uma sala de aula que, apesar de meio isolada, era bem confortável, pelo menos para nossos padrões chinelões. O problema é que ela estava cheia de cadeiras e mesas, que comiam metade do nosso espaço útil. Como aparecia gente de tudo que era lugar para dormir ali no Algacyr, precisavamos fabricar espaço. Empilhamos as porcarias no corredor. Ficou uma obra de arte, digna de Picasso, tão linda que me obriguei a tirar uma foto daquela montanha de pau e ferro. Agora, fico pensando nos funcionários daquela escola, que vão ter que desempilhar e colocar tudo no lugar. Fico com pena. Mas na hora eu só me preocupava como e onde eu dormiria. Dessa vez não fui tapado como no último encontro que fui (levei uma coberta. E só), e trazia comigo meu saco de dormir, o isolante térmico e um colchonete pra não ficar no chão duro. Também tinha uma barraca iglu, mas o espaço era pouco e não precisava montar nada.

Depois que estava tudo organizado (amontoado na sala), começamos a sonhar com comida. E para variar, tinha um restaurante ali perto, o Tempero Verde. Bifê livre, com direito a uma carne e suco liberado, tudo por 5 pila. Pensando logicamente, se havia um restaurante barato assim por perto, com certeza encontrariamos outros, o que significa que não precisavamos ter comprado tantos tickets com a organização do evento. Se não foi traição, foi burrada da organização, que nem ao menos se dignou em procurar lugares próximos para rangar. Posso dizer que os estabelecimentos próximos do evento num raio de 2 km teve muito lucro com a gente, especialmente se vendessem cerveja.

Para ir de um alojamento ao outro, não podiamos contar com nosso ônibus, pois o translado não estava incluído no pacote: era pegar busão de linha ou ir a pé até o Aljazira. Como eu não nego a minha criação na Gringolândia, sempre que possível ia de expresso canelinha, mas a primeira vez que me desloquei do alojamento até a sede me dispus a pagar R$ 1,90 de passagem. Aproveitando para conhecer o local também, comprei uma latinha de Nestea de tangerina, sabor que nunca vi, nem em Caxias, nem em Porto Alegre.

Ocorreria à noite uma plenária inicial, que determinaria algumas regras, como o regimento interno de todas as plenárias que ocorreriam durante o encontro, e, a parte mais importante, quantos eventos os participantes teriam que participar para terem direito de votar nas plenárias e ganhar o certificado de participação. Depois desta plenária, ocorreria a mesa-redonda inaugural, e, pra finalizar, um luau no Algacyr. A bebida era por conta de cada um, inclusive os "litros de sensualidade" (teve gente que realmente esbanjou os seus litros, mas isso não vem ao caso no momento). Um pouco antes de entrarmos para a tal plenária, descobrimos que a naba dos tickets era ainda maior do que poderíamos imaginar. Como eles eram feitos de forma bem... digamos, artesanal (xerocado e cortado com tesoura), era muito fácil fazer algumas versões piratas. E um grupo de malandros fez isso, e tirou xerox de várias páginas de tickets. O único anteparo de segurança que os caras da UFPR tinham pensado, um carimbo atrás de cada ticket, se provou inútil, pois pegaram o carimbo emprestado. Então, como forma de conter o prejuízo, (des)organizaram uma lista com os nomes de quem havia pago suas refeições. Claro, isso não impediria os falsificadores de aparecerem com a maior cara-de-pau do mundo e colocarem seus nomes na lista, mas pelo menos o problema de pirataria estava resolvido.

A plenária foi uma gigantesca piada. Só consigo achar graça daquele negócio mal ajambrado. Qualquer um poderia entrar a qualquer hora e votar, mesmo sem ter ouvido todas as propostas na íntegra, ou mesmo sem ter ouvido porra nenhuma. Por causa disso, aprovaram, por contraste visual, que não era necessário participar de nenhum evento do encontro para ganhar o certificado. Como alguém disse de arreganho depois, era ganhar um certificado de 50 horas de festa. Levando-se em conta que, nos currículos mais recentes dos cursos de graduação em Psicologia do Brasil, atividades extracurriculares como congressos, encontros e cursos valem como créditos complementares, foi um baita presente para os vagabundos de plantão. Outra parte engraçada foram as gurias que sentaram atrás de nós na tenda onde a plenária estava ocorrendo. O jeito como elas falavam ("Democracia demais sempre dá em merda, meu querido!"), se vestiam e gesticulavam simplesmente gritavam "PATRICINHA NO PEDAÇO!" O Marcelo, meu veterano, me cutucou e falou "Aposta quanto que elas são de uma particular?". Bem, elas eram da Universidade Federal de Santa Maria. Foi um belo chute, em todo caso. Lá pelas 7 horas, foi posto em votação se a plenária deveria ser interrompida para a janta ou se deveriamos seguir adiante com ela. Transcrevo, da maneira mais exata possível, a votação:

Mesa - Quem é a favor de que a plenária seja interrompida por 30 minutos para janta
*Poucos levantam o braço*
Mesa - Quem é a favor de que a plenária siga sem interrupções?
*Grande maioria levanta o braço*
Mesa - A plenária seguirá sem interrupções. Porém, a mesa está com dificuldades técnicas e pede um intervalo de 30 minutos para resolvê-los.

Quem precisa de humoristas com gente assim por perto? Fomos jantar mesmo, e como a organização não nos garantia alimentação no primeiro dia, tinhamos que nos virar na janta também. Descobrimos outro barzinho, perto do Cecília Meirelles (a sede, lembram?), o Alecrim, mas conhecido como Bar do Alemão. O xis dele é bem gostoso, e vale os três reais investidos, apesar do tamanho diminuto para os padrões caxienses. Aprovei o suco que ele faz lá também.

Depois do final da plenária, ocorreu, com atraso, a mesa-redonda de abertura. Para variar, cheguei atrasado. Mas não faz muita diferença, por que não lembro de quase nada do que o convidado falou. Só lembro que ele a-d-o-r-a Michel Foucalt. Não é uma grife de roupas, mas um escritor francês. No fim das contas dá no mesmo.

A plenária terminou meio que aos pontapés, já que a escola tinha que fechar às 22:30. Antes de sairmos em direção ao Algacyr para chegar a tempo no luau, demos uma espiada nos eventos do dia seguinte, e, para nossa felicidade, descobrimos que nossa heroína maior, Suely Rolnik, iria participar de uma mesa-redonda. Foi uma hemorragia de prazer descobrir isso.

Fomos a pé mesmo. Junto com nós da UFRGS, havia todo um pessoal de outras universidades que iria para o luau. Eles foram direto para o alojamento, enquanto nós ficamos dando voltas pelo bairro, procurando botecos abertos e clamando "Cerveja! Cerveja! Cerveja!". Encontramos uma padaria aberta. Aproveitei e comprei uma torta e um suco. De lá, fomos para um outro bareco, que vendia vinho e cerveja. Lá, ficamos assistindo os vídeos do acidente da TAM, que havia recém acontecido.

Demoramos bastante para chegarmos no alojamento. Não que estivessemos perdidos (perdido em fico em Porto Alegre sozinho, não em Curitiba junto de uma galera), mas iamos parando de bar em bar, procurando por bebida. Cheganno no Aljazira, já dava para ver que o luau estava foda. Não tinhamos dado 10 passos dentro da escola e já tinha um japa chamando o hugo no gramadinho, e logo atrás dele, um bando de marmanjos gritando "Eu quero passar mal!". Devem ter enchido a cara com Keep Cooler e Smirnoff Ice as moças, mas enfim! Fomos para nosso quarto, onde uma animada roda de violão acontecia. Eu estava meio cansado, e queria me deitar. O Chico perguntou se eu não queria me deitar no colchão dele, pois ele iria dar uma saída. O Chico é um cara injustiçado: dizem que ele é chato, mas no fim ele é um paizão. Bem, eu tinha meu próprio colchonete, recusei e agradeci. Pois é, este foi um dos meus atos que mais influenciou o rumo das coisas.

Lembram que eu falei que algumas pessoas esbanjaram seus litros de sensualidade? Pois é, alguns minutos depois do Chico ter saído, um casal indistindo, na maior agarração, aparece na sala, e se joga em uma cama localizada no canto. É gente, era a cama do Chico. Todos ficaram olhando aquela cena, sem entender muito além de que era uma baita putaria. De repente, alguém puxa uma musiquinha "Chico, cadê você? Estão transando, na sua cama". Foi o delírio da torcida. Cada vez aparecia mais gente para cantar junto, até que o Chico, invocado, aparece e arranca as cobertas que cobriam os pombinhos (bêbados, por sinal). Fico pensando agora: se eu tivesse me deitado na cama do Chico, teriam transado na minha cama? Ou em cima de mim mesmo? Nunca saberemos, e isso é muito bom.

Ainda essa semana posto o Dia II, mas acho que vai demorar mais do que este post pra sair (a memória não colabora).

5 comentários:

Huginn disse...

to só esperando a cena do cachorro.

Vane disse...

huauhauhauhauha...

Certificado de 50 horas de festa, eu tb queeeero, huauhauhahuahua

Unknown disse...

Pois é, garota tímida, bem que dizes que a memória não ajuda... tem um pequeno errinho aí... Não deitaste na tua cama, rapaz, quem tava lá era a Débora! E se não me engano, a cena do chico aconteceu antes de chegarmos a Aljazira... Mas o resto do relato está muito mais fidedigno do que qualquer um dos bêbados do último quarto podería fazer!

Anónimo disse...

SAÍ DE MINHA BAHIA PARA O PIOR
ENCONTRO DE ESTUDANTES DE MINHA VIDA, ESSA ORGANIZAÇÃO MERECE RETALIAÇÃO; BAGUNÇA, DESRESPEITO
PALAVRAS FORJADAS, COMO POLÍTICOS EM CAMPANHA,FALSAS PROMESSAS E TODAS AS ARTIMANHAS DE PESSOAS VIS.
CURITIBA E SEUS PSICÓLOGOS
SÃO O CU DE TIBA, REBANHO DE FILHOS DE PUTA COM CAMINHONEIRO.

Anónimo disse...

ããrrr... desculpa, mas é muita coisa pra eu ler no trabalho!
xD