quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Espírito e Religião - O lado Bom das Igrejas Neopentecoistais

Alguns dias atrás, Huginn fez um post sobre igrejas evangélicas. Mais especificamente, ele fala de um pastor mexicano, que provavelmente mora nos Estados Unidos, e sobre suas pregações obscurantistas, que falam sobre satanismo, sacrifícios humanos e como grandes empresas de entretenimento querem levar as pessoas para Satan. Até aqui, nada tenho para comentar. Mas no final do dito post, Huginn escreve que "é por isso que eu abomino as instituições da igreja."

Por causa de minha personalidade que sempre vai contra o que os outros dizem, fiquei um tanto quanto indignado com essa última afirmação. Primeiro, por que é baseada em uma falácia argumentativa, que parte do pressuposto que o pastor Josué Yrion representa todas as igrejas evangélicas neopentecostais do mundo - tomar a parte pelo todo. Segundo, por que é uma atitude muito comum entre os círculos de "livres pensadores" - homens e mulheres, geralmente ateístas, que desprezam e debocham de religiões e suas instituições. Não quero que tais pessoas deixem de dizer o que pensam, mas que o façam baseados em argumentos racionais precisos.

É lugar comum criticar religiões. Ultimamente, as neopentecostais se tornaram o alvo preferenciam dos racionalistas, mas as mais tradicionais Igrejas Protestantes como a Luterana, a Batista e a Calvinista, e a mais tradicional ainda Igreja Católica Apostólica Romana, para ficar só no Cristianismo, são criticadas há muito tempo. Apesar de não ser tão forte no Brasil, o Islamismo também é bastante atacado. Os principais argumentos contra estas instituições é que elas pregam um estilo de vida irracional, uma fé fanática, de visão estreita e frequentemente preconceituosa, e que enganam seus seguidores.

Não me atrevo, e nem desejo, defender as falhas destas instituições - são muitas, e são verdadeiras. Não vou enumerá-las aqui pois são muitas e pretendo não me extender muito. Além do mais, quem estiver interessado em um "Dossiê Crivela de Merdas das Neopentecostais" não precisa procurar muito: revistas como a Veja, Época e Istoé já publicaram muitas notícias cabeludas sobre os crimes que os pastores e bispos das referidas instituições já cometeram em nome da fé. Quando tanta gente critica e acusa uma pessoa ou organização, algo deve ter de verdadeiro.

Mas, utilizar todas estas acusações e críticas como justificativa para abominar estas instituições é um sofisma - pois toma sua parte ruim como sendo sua totalidade. O Huginn não expressou nenhum desejo ou crença de que o Brasil e o mundo estariam melhor sem as igrejas, ou as religiões em geral, mas muitos indivíduos bem-instruídos e supostamente bem pensantes já defenderam a tese de que é imperativo acabar com a ilusão de Deus, e levar para o hoi polloi (o povão) a Verdade Materialista, de que não há vida após a morte nem um homem de barba branca orquestrando tudo do alto de uma nuvem no céu. Eu mesmo questiono esta visão de mundo, mas não me arvoro o direito de dizer o que é certo e o que é errado para ninguém - coisa que a Universal faz com freqüência, um argumentador astuto diria, como toda a razão. Minha resposta seria que a Universal também faz isso, mas não detém monopólio desta prática.

A fé foi utilizada como leitmotiv (motivo inicial) para muitas coisas ruins: as cruzadas, 11 de setembro, espancamento de homossexuais, jihads, guerras civis. De um ponto de vista externo e pragmático, isto seria motivo o suficiente para decretar que a religião não trás nada de bom para o ser humano, que estaria melhor sem ela. Mas esta é uma opinião superficial. Sempre se parte do pressuposto que "o padre mandou fazer" (ou pastor, rabino, aiatolá ou sacerdote), e raramente de que aqueles que participaram eram mau-intencionados por si só (o que é diferente de ser intrinsecamente maldoso, devo ressaltar), que todas suas ordens são más, e que o único beneficiado nessa história toda é a igreja, o papa, enfim, a organização religiosa. O homem religioso em si, que obedeceu seus diretores espirituais, só se ferra.

Mas tal como muitos argumentos pentecostais, católicos ou muçulmanos, este é um ataque unilateral, pois ignora deliberadamente o que a religião pode trazer de bom para todos. E estou incluíndo aqui o que a Universal pode trazer de bom para seus fiéis.

Mais uma vez, utilizo a grande mídia como base para meus argumentos. Se você, caro leitor deste blog, entra em sites de fofocas de vez em quando, já viu alguma subcelebridade que ouviu o chamado de Cristo e entrou para igreja evangélica. O último destes foi o ator pornô Alexandre Frota. Os críticos devem ter sido rápidos em acusar sua conversão em "golpe de marketing", e que não é sincero, mas se analisarmos o padrão de comportamento destas subcelebridades neopentecostais, vamos perceber que todas elas tem em comum que, antes da vida religiosa, elas viviam num meio de drogas, promiscuidade sexual e emocional, e em última análise, sem sentido (meaningless). Aposto que muitos de nós acham que a vida de um ator pornô como Frota é a vida que pedimos a Deus, mas deve ser o justo oposto. Quem gostaria de ser lembrado todos os dias por sua participação num filme cujo estúdio, por causa das cenas de sexo anal, ficou todo cheio de merda? Outra destas filhas de Cristo é Monique Evans, que também vivia na esbórnia. Deste ponto de vista, acho que não é só compreensível estas conversões, mas louvável, por levar estas pessoas para um estilo de vida mais saudável.

Mas a mídia não perdoa, e faz parecer que estas conversões são frescuras de um subfamoso que quer chamar atenção. Por exemplo, o site Ego (cuja credibilidade começa pelo nome) publicou uma matéria sobre a filha de Baby do Brasil, Sarah Sheeva. O título da reportagem é "Sarah Sheeva abdica do sexo e vira missionária evangélica". Este título foi escrito de maneira a gerar espanto nas pessoas, e escárnio, pois quem em sã consciência deixaria de trepar pra ficar falando de Jesus?!?! O Portal Ego não pára por aí. Sarah Sheeva conta o motivo de sua mudança de uma vida ninfomaníaca para uma religiosa: “Aconteceu uma coisa muito louca, sobrenatural. Comecei a rezar, a falar com Deus. Na minha ignorância, dentro do meu quarto, de repente, senti uma presença forte, que era Deus. Cai no chão, me prostei e ali me converti”. Mais uma vez, quem lê imediatamente pensa que ou é golpe de mídia, ou ela teve um ataque epilético. Abraham W. Maslow, pai da Psicologia Humanista, fala em seu livro "Introdução à Psicologia do Ser" sobre as "experiências culminantes" (peak experiences no original) - vivências maravilhosas, que não raro mudam o rumo das pessoas que as vivenciam, e para melhor! Para quem estudou com atenção a obra de Maslow, é óbvio que Sarah Sheeva teve uma experiência culminante. Mesmo assim, o portal Ego, com sua linguagem moderninha-superficial faz parecer que foi apenas uma puta babaquice (ou uma babaquice de puta, que seja).

Na lista de "religiões criticáveis" não citei uma, muito importante no panorama mundial atualmente: o budismo. Ao contrário dos outros sistemas religiosos, o budismo raramente é criticado. Pelo contrário, é quase sempre muito elogiado por sua história e práticas pacíficas. Claro, se eu fuçar um pouco na Wikipédia eu vou encontrar uma guerra cujo leitmotiv foi o budismo, mas vai ser a exceção ao padrão (não me atrevo a dizer "regra"). Um materialista radical e pragmático provavelmente diria: "se temos o budismo, que apesar de ser uma religião, é pacífica e até que é racional, por que essas celebridades viram evangélicas?" Um argumento sonoro, mas profundo como um pires. O primeiro motivo para isto não acontecer é a disponibilidade - afinal, quantos templos budistas temos no Brasil, em comparação com templos evangélicos? Consigo citar mais nomes de igrejas neopentecostais inteiras do que templos budistas no Brasil. É mais fácil eu ir para a Universal do que para o mosteiro de budismo tibetano em Três Coroas. E quando alguém sente um vazio existencial, ela irá procurar apoio em um local próximo - e as pentecostais fazem isso muito bem.

O segundo motivo para que o Neopentecostalismo seja mais popular que o Budismo é a atitude de seus sacerdotes. Enquanto o pastor da Sara Nossa Terra ativamente chama para si as almas perdidas, o monge budista apenas recebe de coração aberto aqueles que procuram conforto em Buda. Quem está desesperado buscando um sentido vai no lugar que mais lhe chama atenção - e é inegável que os cultos da Universal são beeeem chamativos.

O terceiro e mais importante motivo é a motivação e (em parte) o nível intelectual das pessoas. As pessoas que vão para uma evangélica buscam salvação para sua alma, redenção de seus pecados. Querem ser acolhidas por alguém. Só. E mais uma vez, as neopentecostais fazem isso com excelência. Não importa se elas pedem dinheiro, elas acolhem qualquer um. Aquele que busca Buda é muito mais inquieto, pois ser apenas salvo não lhe atrai. Há nele um desejo, muitas vezes inconsciente, de algo maior do que isto, de ser compassivo e amoroso. Se nos dois casos se busca um sentido para a vida, há uma diferença espiritual muito grande. O nível intelectual também influencia esta escolha, pois os textos e práticas budistas são muito mais complexos do que os cultos e orações evangélicas. Talvez seja um erro utilizar o conceito de inteligência, ou de preparo intelectual, como argumento que diferencia budistas de evangélicos: há muitos fiéis da Universal com ensino superior completo, provavelmente muitos com pós-graduações avançadas, como doutorado ou pós-doutorado. E poucos aldeões tibetanos devem ter tudo isto. Talvez o termo mais correto fosse "preparo espiritual", mas prefiro evitar discussões metafísicas no momento. De qualquer forma, há uma diferença mental entre os dois tipos de religiosos que cito. Aqueles que buscam e ficam, por assim dizer, "satisfeitos" em freqüentar os cultos da da Igreja Renascer, estão preparados para receber e entender aquilo que seus pastores têm para oferecer, ao passo que aquele que busca Buda, se fosse parar na mesma Renascer, sentiria-se ainda insatisfeito, pois ele busca algo maior, e sentiria a satisfação do evangélico com coisas mais complexas. Da mesma maneira, um fiel de uma pentecostal não teria o preparo para entender textos como o "Livro Tibetano dos Mortos". Capacidade, talvez. Preparo, não.

Enfim, o que quero dizer é que, apesar de todos os seus defeitos, as igrejas evangélicas, tanto as mais antigas quanto as mais recentes têm o poder de dar aos seus fiéis sentido para a vida, através de uma mensagem que eles podem entender. O fenômeno das igrejas voltadas para setores específicos da sociedade, como metaleiros ou soldados do BOPE (que são mostradas na reportagem da revista Galileu do mês de fevereiro de 2008), mostra isso com clareza cristalina. As pessoas buscam algo que preencha o vazio que sentem; buscam serem aceitas como são, por pessoas que a entendam. As religiões como um todo fazem isso. Mas as pessoas são diferentes umas das outras, e buscam coisas diferentes - seja isto por causa de temperamento, genética, cultura, intelecto ou algo além disso tudo - e por isso existem tantas religiões e cultos diferentes. "Muitas lanternas, uma só luz". E nessa conta devemos incluir as Neopentecostais, com todos os seus defeitos e vícios. Alguns pastores (talvez não sejam só alguns) podem manchar a reputação delas, mas não podemos tomá-los como exemplos do que é ser evangélico.

1 comentário:

Anónimo disse...

Belo texto! tah aih uma coisa q nunca serviu d palco para nossas conversas infindaveis...religiao... na proxia oportunidade, quem sabe... grande abraço!
barbara